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Somos nós que escolhemos 

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Recentemente, fui confrontado por um colega de escola com a seguinte afirmação: “O sistema capitalista nos força a consumir produtos e serviços que não necessitamos nem desejamos.” Além dessa fala, ele também apresentou uma breve exposição sobre o que denominou de “coação do capital e desemprego estrutural”, exemplificado pela forma como somos “coagidos” a comprar algo ou usar determinado serviço podendo retirar o emprego de pessoas – como os novos caixas automáticos de supermercado. Embora eu tenha imediatamente contestado e que, até onde eu saiba, ninguém é coagido a usar serviços específicos como o exemplificado. Uma vez que a coação é um conceito jurídico claro e específico, não houve questionamento adequado sobre a pertinência das afirmações anteriormente utilizadas. 

Pretendo explorar neste ensaio o argumento de que a ideia de coação para uso de um produto ou serviço é absurda se não enquadrada no rigor da lei e que, na verdade, somos livres para escolher, mas também devemos assumir a responsabilidade por nossas decisões.

Os críticos mais enfáticos do sistema capitalista frequentemente afirmam que ele prioriza o lucro máximo. No entanto, é importante lembrar que ninguém lucra com algo se ninguém desejar consumir ou pagar. Quando digo “ninguém”, refiro-me a qualquer ser humano que possa, em algum momento, se deparar com a oportunidade de adquirir um determinado produto ou serviço. Quem, em sã consciência, afirmaria que um empresário, por mais ambicioso que seja, produziria algo que ninguém deseja comprar? Como Ludwig Von Mises argumenta em “Ação Humana”, fazemos escolhas econômicas que organizam as cadeias de produção para atender às necessidades daqueles que usam seu dinheiro e sua propriedade privada como meio de troca.

Pode-se argumentar que a influência social desempenha um papel significativo em nossas decisões de compra e uso de serviços. No entanto, afirmar que há coação nas propagandas e serviços é o mesmo que afirmar que o poder de persuasão de uma marca é equivalente ao de uma arma apontada para nós. Não somos obrigados a adquirir nenhum serviço, mas isso não significa que não seja vantajoso fazê-lo, se for de nosso interesse. Sempre que produtos excelentes são criados e produzidos, muitos desejam adquiri-los e usufruir de seus benefícios. Como Ayn Rand destaca em “A Revolta de Atlas”, os indivíduos buscam sua própria felicidade e satisfação ao escolher produtos e serviços, expressando suas preferências por meio de seu dinheiro.

No exemplo inicial, ao optar por usar o caixa automático no supermercado, você simplesmente está indicando  a escolha que melhor atende às suas necessidades. No entanto, aqueles que argumentam sobre um “desemprego estrutural” negam que você e outros poderiam ter escolhido, assim como muitos o fazem, a não usar esse tipo de serviço, preferindo o caixa operado por um ser humano. É claro que mudanças tecnológicas e sociais podem levar ao desemprego em algumas situações no curto prazo, mas acreditar que isso seja causado por um grupo de empresários tomando decisões arbitrárias soa como uma teoria conspiratória infundada. Culpar terceiros é um erro comum em teorias que negligenciam a liberdade de escolha como princípio fundamental.

Tanto eu quanto você, caro leitor, “votamos” com cada centavo que decidimos gastar em um produto em vez de outro ou ao optar por um serviço em detrimento de outro. Somos responsáveis por nossas escolhas. No caso do caixa de supermercado, as empresas jamais teriam automatizado esse serviço sem uma demanda por essa conveniência. Ninguém pode se eximir da responsabilidade de escolher entre as opções disponíveis. Culpar um suposto sistema maligno é evitar a responsabilidade inerente à tomada de decisões. Independentemente de suas escolhas, é notável que o sistema capitalista busca servir aos indivíduos da melhor maneira possível, oferecendo uma variedade de opções. Nós decidimos.

Em “Intelectuais e a Sociedade”, o economista Thomas Sowell explora a problemática de criar teorias que negam a responsabilidade de cada um de nós, por menor que seja, nas mudanças que ocorrem. Desde Karl Marx, intelectuais tentaram elaborar teorias sobre sistemas fechados e auto-sustentáveis, excluindo as decisões individuais. No entanto, tais ideias são mais fantasiosas do que realistas. As mudanças em tecnologia e serviços ocorrem porque alguém, seja eu ou você, decide que algo é mais adequado às suas necessidades individuais no momento. O sucesso máximo de um empresário no sistema capitalista reside em servir melhor a você e a mim do que seus concorrentes Como Sowell sabiamente aconselha: “É surpreendente o quanto de pânico um homem honesto pode causar no meio de uma multidão de hipócritas”. Não sejamos hipócritas: somos nós que decidimos. 

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Ricardo Goron

É coordenador na diretoria de projetos do instituto Atlantos. É estudante do último ano do ensino médio. É Residente de Porto Alegre, RS. Apaixonado por livros e em escrever. Considera a disseminação das ideias da liberdade como uma missão em um mundo que cada vez mais opta pelo controle sobre os outros e suas decisões. Foi vencedor do primeiro concurso de ensaios objetivistas do Centro de Mídias Galt Brasil.

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