Star Wars é um clássico do cinema, lançado em 1977, que inovou nos efeitos especiais da época. No entanto, sua grandeza vai além dos visuais impressionantes; a trama é excepcionalmente bem construída, com uma profundidade que se estende para além das icônicas batalhas com sabres de luz. Uma dessas facetas é explorada na trilogia Prequela, onde acompanhamos a transformação de uma República Parlamentarista em um autoritário Primeiro Império Galáctico. Irei traçar os paralelos do filme com o atual cenário brasileiro nas linhas abaixo.
De forma resumida, os três primeiros filmes narram a ascensão de Palpatine ao cargo de chanceler supremo, tudo isso em meio a um evento caótico: de um lado, a república tentando manter a sua unidade; do outro, separatistas que tinham como objetivo se desconectar de toda a burocracia e corrupção da república. De forma habilidosa, quando os dois lados estavam enfraquecidos por conta dos anos de conflito, ele convoca uma sessão do senado galáctico para pedir mais poderes emergenciais aos senadores, com a justificativa de pôr fim à guerra. Investido desses poderes, ele se proclama o primeiro imperador, e com isso todo o parlamento vibra. Neste momento, a personagem Padmé Amidala solta a famosa frase: “É assim que a liberdade morre. Com um estrondoso aplauso”.
No entanto, essa promessa vem com um alto preço: o fim da liberdade e a instauração de um estado policial, onde as pessoas que não aceitam as regras do Império acabaram em prisões de trabalhos forçados ou, pior ainda, executadas.
Enquanto todas essas atrocidades aconteciam, aqueles que não tinham medo acabaram se organizando e formando a resistência que se espalhou por toda a galáxia. Os rebeldes tinham o objetivo de acabar com o império e restaurar as liberdades que lhes foram retiradas. Nesse cenário é incrível como indivíduos podem se unir em tempos difíceis para lutar por liberdade e justiça.
Recentemente, em nosso país, temos um Vader à la brasiliense, que não usa uma máscara, muito menos um sabre de luz, mas sim uma toga e uma caneta para ditar os rumos do Brasil. Infelizmente, a realidade está imitando a arte, parlamentares em pleno foro especial por prerrogativa de função (embora haja controvérsias, está dentro da nossa constituição) estão sendo perseguidos judicialmente pelo que falam. Também, foi criado o “Centro Integrado de Enfrentamento à Desinformação e Defesa da Democracia”, que nada mais é do que uma ferramenta estatal para censurar e retirar do ar discursos que ferem a democracia (relativa) em que vivemos. Nota-se que se expressar livremente é quase considerado um ato terrorista.
No último mês, o dono do “X” (antigo Twitter) expôs ao mundo o que os nossos guardiões da constituição têm feito, principalmente Alexandre de Moraes. Ele ,durante o último pleito eleitoral em nosso país, retirou do ar contas nas redes sociais de quem ele julgava estar disseminando fake news. A ministra Cármen Lúcia, também durante as eleições, votou a favor de impedir a exibição de um documentário produzido pela Brasil Paralelo. Durante o seu voto, ela falou:
“…Mas eu vejo isso como uma situação excepcionalíssima…”
Desde então, vivemos uma exceção atrás da outra sob a justificativa de ser um remédio para a dita ameaçada democracia.
O ministro Zanin recentemente votou contra a prorrogação da desoneração da folha de pagamento para 17 setores da economia, sendo que este tema já foi debatido entre o congresso que votou em mantê-lo. Tal feito é um ataque claro à divisão dos poderes.
De tempos em tempos, surge uma figura que tenta acabar com as liberdades individuais. O totalitarismo durante nossa história recente se manifestou de diversas formas, como a Alemanha nazista de Hitler, o Stalinismo na União Soviética e o Fascismo na Itália, entre outros exemplos. Todos esses regimes atuaram de maneiras semelhantes, promovendo a desestabilização da sociedade, a identificação de um inimigo em comum, a criação e manutenção de um Estado forte e centralizado que controla a população, a supressão da individualidade, a disseminação de propaganda em larga escala e o estabelecimento de um estado de vigilância constante, onde o medo é utilizado como forma de controle social.
No universo de Star Wars, essa dinâmica também foi retratada, especialmente com o Imperador Palpatine, que buscava dizimar os Jedi, transformando-os em um inimigo comum e recorrendo ao militarismo para manter-se no poder. Atualmente, vemos figuras como Putin, que tenta a todo custo anexar a Ucrânia sob a justificativa de “desnazificação” do país. Além dele, Kim Jong-un, que lidera um país onde sequer há energia suficiente para manter as luzes acesas durante a noite, lutando contra o capitalismo. Com o que foi exposto, fica claro que a galáxia tão distante de Star Wars está mais próxima de nós do que nunca, porém a diferença entre os regimes totalitários do passado e o da ficção é que em vez de termos um poder Executivo forte, temos a concentração de poder no Judiciário.
Sem comentários por enquanto!