Skip to main content

Templos, Tanques e Trincheiras: Quando o Nacionalismo Vira Inimigo da Liberdade

...

O conflito entre Tailândia e Camboja, historicamente centrado na disputa pelo templo de Preah Vihear, é mais do que um impasse territorial: trata-se de um exemplo claro de como o nacionalismo estatal pode ultrapassar os limites da liberdade individual e comprometer a paz regional. O templo, uma construção milenar que simboliza o passado espiritual e cultural da região, foi declarado Patrimônio Mundial da Humanidade pela UNESCO em 2008. No entanto, sua localização estratégica na fronteira entre os dois países tem sido motivo de confrontos e tensões diplomáticas há décadas.

Em 1962, a Corte Internacional de Justiça determinou que o templo pertence ao Camboja, decisão que, embora reconhecida formalmente pela Tailândia, jamais foi totalmente aceita por setores políticos e militares daquele país. A partir dos anos 2000, os episódios de atrito se intensificaram, com confrontos armados em 2008, 2009 e 2011, causando mortes, feridos e o deslocamento forçado de civis. Tais episódios não ocorreram por acaso, mas foram alimentados por elites políticas locais que utilizam o patrimônio cultural como instrumento de mobilização nacionalista, exacerbando rivalidades históricas para fins internos e eleitorais.

Sob a perspectiva liberal, esse tipo de conflito é uma distorção grave da função do Estado. Governos existem para proteger a liberdade, a segurança e os direitos individuais — não para alimentar disputas territoriais baseadas em símbolos ou ressentimentos do passado. O Estado, ao militarizar a fronteira e transformar templos em arenas políticas, ignora os impactos reais sobre as populações locais, que são obrigadas a abandonar suas casas, negócios e vidas em nome de um conceito ultrapassado de soberania.

A retórica nacionalista pode inflamar o orgulho de uma nação, mas é incapaz de gerar prosperidade. Ao contrário, ela mina a confiança internacional, dificulta acordos comerciais e afasta investimentos. Tailândia e Camboja poderiam transformar a região do templo em zona de cooperação mútua, com ganhos turísticos, culturais e econômicos compartilhados. O liberalismo econômico defende justamente isso: que a liberdade de transitar, negociar e construir soluções voluntárias entre nações supere os instintos beligerantes do poder estatal.

É fundamental lembrar que o indivíduo deve estar no centro das decisões políticas. Quando se transforma um patrimônio histórico em ferramenta de provocação ou controle, as vítimas são sempre as mesmas: os cidadãos comuns. O pensamento liberal rejeita a ideia de que fronteiras desenhadas por guerras ou tratados coloniais devam continuar a gerar violência. Em vez disso, propõe um mundo de cooperação, respeito mútuo e resolução pacífica de conflitos por meio de instituições multilaterais legítimas — como a Corte Internacional de Justiça e os fóruns da ASEAN.

O conflito entre Tailândia e Camboja é, portanto, um alerta: o século XXI exige soluções modernas para problemas antigos. Disputas armadas por fronteiras e símbolos são resquícios de uma política externa baseada na força, não na razão. A paz precisa ser o novo padrão, e a liberdade individual, o princípio orientador das decisões geopolíticas. Apenas com base nesses valores será possível transformar rivalidade em parceria — e fronteira em ponte, não em trincheira.

...
Avatar photo

Juliana Antonelli

É uma defensora da liberdade e acredita que este é o único caminho para a construção de uma sociedade verdadeiramente livre e próspera. Atualmente e formada em Direito. Nas horas vagas, adora debater política, conhecer novos lugares, livros e escrita.

Sem comentários por enquanto!

Seu endereço de email não vai ser publicado.