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Tabata Amaral e o Roblox: quando o moralismo populista revela ignorância

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A deputada federal Tabata Amaral recentemente voltou aos holofotes por conta de declarações alarmistas a respeito do jogo Roblox. Em sua crítica, alegou que a plataforma representa riscos para as crianças brasileiras, chegando a defender a abertura de investigações para apurar supostos conteúdos “impróprios”. O tom de indignação moral, embora disfarçado por um verniz de preocupação social, revela mais do que um simples desconhecimento técnico: escancara o despreparo intelectual de uma parlamentar que, apesar de sua formação acadêmica, prefere o populismo ao estudo sério, a patrulha moral à liberdade e a tutela estatal à autonomia familiar.

É profundamente preocupante que uma representante eleita, cujo papel deveria ser o de fomentar o pensamento crítico e a inovação, recorra a retóricas paternalistas baseadas em desinformação e pânico moral. Roblox é, hoje, uma das plataformas mais relevantes para o desenvolvimento de habilidades digitais entre crianças e adolescentes. Longe de ser apenas um “jogo”, é um ecossistema criativo onde milhões de jovens usuários aprendem programação, design, lógica, resolução de problemas e até mesmo conceitos de economia e empreendedorismo. O que Tabata critica — sem demonstrar ter sequer estudado com profundidade — é, na prática, uma incubadora global de talentos digitais. Em vez de enxergar nisso uma oportunidade educacional, a deputada vê um perigo, como se o desconhecido devesse ser imediatamente regulado ou proibido.

O que está em jogo não é apenas a reputação de uma plataforma digital, mas um debate muito mais amplo: o conflito entre liberdade individual e intervencionismo estatal. Quando uma autoridade pública defende que o Estado deve investigar e, potencialmente, intervir em uma ferramenta digital porque ela pode conter algo indesejado, o que se estabelece é um perigoso precedente para a censura preventiva e a infantilização da sociedade. Toda liberdade carrega riscos — e é justamente por isso que ela deve ser protegida. A alternativa é a criação de um Estado tutor, que vigia cada clique, filtra cada conteúdo e suprime a criatividade sob a justificativa da “segurança”.

O caminho sensato para lidar com desafios digitais não passa pela criminalização ou demonização de plataformas tecnológicas. Passa pela educação digital nas escolas, pelo fortalecimento da responsabilidade dos pais, pelo uso de ferramentas de controle parental e pela exigência de transparência nas plataformas. É assim que sociedades livres e responsáveis lidam com os riscos inerentes à liberdade: com informação, autonomia e escolha, não com coerção e medo.

A fala de Tabata Amaral não é um caso isolado, mas parte de um padrão recorrente na política brasileira. Sempre que surge uma inovação que escapa à compreensão dos parlamentares, a reação imediata é o apelo ao controle. Em vez de legislar com base em evidências, dados e diálogo com especialistas, optam pelo caminho fácil do populismo moral, transformando problemas complexos em slogans legislativos. Criam-se comissões, propõem-se investigações, e instalam-se debates parlamentares que, no fundo, só revelam a ansiedade de controlar aquilo que não se entende.

A postura da deputada também ignora um princípio fundamental das sociedades liberais: a soberania da família sobre a educação e o cuidado dos filhos. Não cabe ao Estado decidir o que uma criança pode ou não consumir digitalmente. Essa é uma prerrogativa inegociável dos pais. Substituir esse juízo pela regulação estatal é violar a esfera privada e concentrar poder nas mãos de quem, historicamente, demonstrou incompetência em geri-lo.

O liberalismo é claro quanto a isso: onde há liberdade, há risco — mas também há criatividade, diversidade e progresso. Onde há controle estatal, há estagnação, censura e uniformização forçada. A tentativa de enquadrar o universo digital ao gosto do Estado é uma manifestação perigosa de autoritarismo moral travestido de política pública.

Tabata Amaral, ao abraçar o discurso do controle sob o pretexto de proteger as crianças, escorrega para o autoritarismo que ela mesma diz combater. Em vez de utilizar sua posição para ampliar o debate sobre educação digital, autonomia familiar e uso consciente da tecnologia, optou por alimentar o medo, buscar holofotes e reforçar o papel do Estado como tutor universal. No embate entre liberdade e tutela, a deputada escolheu — mais uma vez — o lado errado. E o fez em voz alta.

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Juliana Antonelli

É uma defensora da liberdade e acredita que este é o único caminho para a construção de uma sociedade verdadeiramente livre e próspera. Atualmente e formada em Direito. Nas horas vagas, adora debater política, conhecer novos lugares, livros e escrita.

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