
Nos últimos meses, o governo Lula tem enfrentado crescente impopularidade, refletindo a insatisfação popular com os rumos da economia, especialmente relacionados à situação econômica do país. Segundo pesquisa do Instituto Futura Inteligência, 51,1% dos entrevistados avaliam o governo como ruim ou péssimo, e 60,3% têm a mesma percepção sobre a economia brasileira.
A frustração do brasileiro com a economia não se resume a estatísticas: está estampada no dia a dia : está no cotidiano, na ida ao mercado, na sensação de que o dinheiro compra menos a cada mês e essa percepção se confirma com os dados. Em julho, foi divulgado o IPCA e a meta de inflação não foi cumprida pelo Banco Central. Além disso, segundo o IBGE, os alimentos já consomem mais de 20% do orçamento das famílias com renda entre 1 e 1,5 salário mínimo. Nesse contexto, é preciso destacar um fenômeno que pesa diretamente no bolso dos mais pobres: reduflação.
Antes do Plano Real, com inflação chegando a mais 3 dígitos, nossos pais e avós enfrentaram esse cenário com corridas aos mercados, compras em grandes quantidades a fim de não sofrer com as alterações do preço que ocorriam nos produtos ao longo do dia. Embora o Brasil não enfrente uma hiperinflação como nos anos 80, os efeitos da inflação persistente são disfarçados por práticas como a reduflação, mas, diferentemente de meados dos anos 80, hoje muitos consumidores não percebem o efeito das mudanças de preço devido a reduflação.
Esse termo é usado na economia para se referir a diminuição de tamanho, quantidade ou qualidade, de produtos para que possam ser vendidos ao mesmo preço sem que os consumidores sintam o peso da perda do poder de compra. No canto inferior esquerdo, abaixo da descrição de gramas ou mililitros, costuma indicar: “Novo peso: de 90g para 85g (Menos 5g ou 4%)” ou sobre a qualidade “nova receita” indicando a substituição de ingredientes, gerando o “sabor tipo doce de leite” e não tendo mais a presença do produto in natura, mas sim um composto com aromatizante artificial que imita seu sabor e, muitas vezes, prejudicando a qualidade do produto.
No campo da microeconomia, a reduflação pode ser compreendida à luz do efeito substituição, que ocorre quando os consumidores, diante da perda do poder de compra, optam por bens alternativos de menor valor ou qualidade. Essa substituição, muitas vezes inconsciente, é imposta de maneira sorrateira , ela é imposta de forma disfarçada, na medida em que o consumidor continua adquirindo o mesmo produto, mas recebe uma quantidade menor ou uma versão de qualidade inferior. Essa prática mascara os efeitos da inflação ao preservar o preço nominal, ao mesmo tempo em que reduz o valor real da mercadoria entregue. Assim, ainda que a inflação aparente esteja sob controle, o impacto no consumo e no bem-estar do indivíduo permanece significativo e estrutural, afetando principalmente as camadas mais sensíveis da população, que já enfrentam maiores restrições orçamentárias.
Desde setembro de 2024, o Banco Central do Brasil tem adotado medidas de aperto monetário, como o aumento da taxa básica de juros, a Selic, com o intuito de conter a alta da inflação e reduzir a circulação da moeda. Em conjunto com outras políticas monetárias, essas ações visam garantir o cumprimento das metas de inflação estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional, promovendo maior previsibilidade e transparência no cenário econômico nacional. No entanto, tais medidas mostraram-se inócuas diante da desorganização fiscal e da imprevisibilidade institucional em julho de 2025. O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, atribuiu esse desvio a uma combinação de fatores, como a atividade econômica aquecida, a volatilidade do câmbio e o aumento do custo da energia elétrica.
Embora os fatores apontados pelo Banco Central sejam relevantes para a compreensão do estouro da meta inflacionária, ignorar o impacto da instabilidade política e da contínua deterioração da credibilidade do atual governo é negligenciar a raiz do problema. A adoção de políticas fiscais expansionistas, sem sinalização concreta de cortes de gastos ou responsabilidade fiscal a médio e longo prazo, compromete a confiança de investidores e agentes econômicos. Soma-se a isso a recorrência de escândalos de corrupção envolvendo aliados do governo, além de conflitos diplomáticos que geram incertezas nas relações internacionais do Brasil. Esses elementos contribuem para o aumento da percepção de risco, pressionam o câmbio e dificultam o controle inflacionário, mesmo diante de uma política monetária mais restritiva.
Um governo que se propõe a representar os interesses dos pobres e trabalhadores deveria demonstrar maior responsabilidade com os fundamentos econômicos que impactam diretamente essa parcela da população. Porém, observa-se uma tendência a adotar medidas paliativas, como a ampliação de benefícios e transferências de renda, que embora possam oferecer alívio momentâneo, não resolvem o problema estrutural da perda do poder de compra. Ao negligenciar o controle fiscal, a previsibilidade econômica e a estabilidade monetária, o governo contribui para um ambiente de incerteza que recai, de forma mais intensa, justamente sobre os mais vulneráveis. Benefícios pontuais não compensam uma inflação persistente, preços instáveis e a corrosão do salário real. Proteger os trabalhadores não passa por slogans ou paliativos eleitoreiros , e não discursos populistas disfarçados de política social.

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