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Guerra tarifária entre Brasil e EUA: protecionismo dos dois lados e o prejuízo para todos

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O recrudescimento da guerra tarifária entre Brasil e Estados Unidos evidencia um mal que insiste em rondar até mesmo as maiores economias do mundo: o protecionismo disfarçado de soberania. Recentemente, os dois países têm trocado farpas e sobretaxas em setores como aço, etanol, produtos agrícolas e industrializados. A retórica oficial, embora semelhante na forma, tem motivações distintas.

Do lado americano, especialmente durante o governo Trump, o discurso da “defesa da indústria nacional” foi amplamente utilizado — sobretudo contra países com os quais os EUA mantêm déficits comerciais, como China e México. No caso brasileiro, no entanto, a motivação atual vai além de questões econômicas: trata-se, em grande medida, de uma retaliação política velada, em resposta à perseguição do STF contra o ex-presidente Bolsonaro e seus aliados. Muitos analistas continuam discutindo o superávit comercial dos EUA com o Brasil, mas esquecem que o trecho da carta americana mencionando “déficit” é parte de um modelo padrão, reutilizado sem a devida adequação neste caso.

O governo brasileiro reagiu às barreiras impostas pelos EUA com medidas semelhantes, alegando que não pode “ficar passivo”. Washington, por sua vez — influenciado por pressões internas de sindicatos e produtores locais — voltou a mirar o aço brasileiro com desconfiança, num movimento mais político do que econômico.

Contudo, sob uma ótica liberal, ambos estão errados. Não há justificativa racional para tarifas punitivas entre dois países que, historicamente, deveriam estar aprofundando laços comerciais. Em vez de promoverem acordos bilaterais de abertura econômica, baseados em competitividade e inovação, Brasil e Estados Unidos parecem presos a um ciclo antiquado de retaliações comerciais que apenas prejudica a previsibilidade do mercado internacional.

Isso porque, quando o Brasil impõe barreiras a produtos americanos, penaliza o consumidor brasileiro, que passa a pagar mais por itens que poderiam ser mais baratos e de melhor qualidade. Ao mesmo tempo, fecha as portas à concorrência saudável, favorece empresas ineficientes e estimula o compadrio entre Estado e setores privilegiados.

Quando os EUA retaliam, enfraquecem a própria bandeira que sempre levantaram de liberdade econômica e comércio justo, além de gerar desconfiança entre parceiros estratégicos e encorajar o surgimento de blocos econômicos alternativos — como BRICS e Mercosul — menos alinhados aos ideais de livre mercado.

Essa guerra tarifária, travestida de proteção à “soberania industrial”, é, na prática, um ataque à soberania do indivíduo: o direito de escolher, vender, comprar e competir sem interferência arbitrária do Estado. Em vez de favorecer os trabalhadores, o protecionismo os empobrece. Em vez de fortalecer a indústria, a torna dependente do governo. E, em vez de consolidar relações diplomáticas maduras, infantiliza o comércio exterior com posturas revanchistas.

A verdade é que tanto Brasil quanto Estados Unidos carecem, hoje, de uma política comercial genuinamente liberal. Ambos se contradizem ao defenderem liberdade interna e controle externo. Ambos fazem discursos de mercado aberto, mas recorrem a medidas intervencionistas quando seus interesses locais são ameaçados — ainda que pela eficiência do concorrente estrangeiro.

Se desejam ser protagonistas na economia global do século XXI, os dois países precisam abandonar o fetiche do protecionismo e investir em acordos que promovam redução tarifária mútua, segurança jurídica e abertura comercial. A prosperidade não se constrói com muros, mas com pontes.

No final, quem perde com essa guerra tarifária não são os governos, mas os próprios cidadãos, produtores, consumidores e empreendedores — todos privados das oportunidades geradas por um mercado verdadeiramente livre.

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Juliana Antonelli

É uma defensora da liberdade e acredita que este é o único caminho para a construção de uma sociedade verdadeiramente livre e próspera. Atualmente e formada em Direito. Nas horas vagas, adora debater política, conhecer novos lugares, livros e escrita.

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