
Pela primeira vez, um governo admite publicamente, com um ano e meio de antecedência, que deixará as contas públicas em frangalhos. E, como sempre, quem paga a conta é o cidadão comum.
A expressão “herança maldita”, tão comum no discurso político, geralmente surge da oposição ou de análises críticas da imprensa. Desta vez, porém, veio de dentro do próprio Ministério da Fazenda. Em um gesto inédito, o governo federal reconhece, com frieza técnica, que deixará um rombo fiscal significativo ao final de seu mandato. Essa admissão não apenas expõe uma crise de credibilidade na gestão econômica, mas também revela um cálculo político cínico: antecipar a desculpa para culpar futuros governantes, o Congresso ou até mesmo “fatores externos” por problemas que estão sendo criados agora.
É uma estratégia conhecida: gastar irresponsavelmente para garantir popularidade imediata, enquanto o custo da irresponsabilidade fiscal é empurrado para o próximo governo. Se o atual presidente for reeleito, dirá que “herdou de si mesmo” uma crise causada por circunstâncias alheias. Se perder, acusará o sucessor de incompetência por não resolver um problema que foi, na verdade, meticulosamente planejado.
Mas o problema vai além da disputa política. Reflete um modelo de gestão que ignora limites, despreza a responsabilidade intergeracional e trata o dinheiro público como se fosse infinito — ou como se não pertencesse a ninguém.
O déficit crescente, a ausência de um teto de gastos confiável, o abandono de reformas essenciais e o aumento descontrolado de subsídios e estatais mostram o fracasso de uma fórmula populista: mais Estado, mais gastos, mais intervenção e menos resultados.
Na prática, isso se traduz em inflação persistente, juros altos, queda nos investimentos privados, aumento da dívida pública e perda de competitividade. Quando o governo gasta mais do que arrecada, sobra menos para investimentos produtivos e mais pressão sobre o bolso do contribuinte. E, como sempre, quem paga o pato é o cidadão comum: o pequeno empresário asfixiado por impostos, o trabalhador informal sem acesso a crédito, o consumidor que vê seu poder de compra minguar.
Não existe “herança maldita” que não seja fruto de escolhas políticas. E, neste caso, a escolha é clara: priorizar o curto prazo, a popularidade fácil e adiar indefinidamente as reformas que o país precisa.
A confissão antecipada de que as contas não fecharão é a institucionalização do improviso como método de governo. Não há planejamento, não há compromisso com o equilíbrio fiscal. Há apenas um jogo político: usar o cofre público como ferramenta de propaganda e, quando a conta chegar, culpar o “mercado”, o Congresso ou até a Constituição.
Mais uma vez, o lulismo mostra sua incapacidade de governar com responsabilidade. Repete o mesmo erro: cria o problema e depois se vende como a única solução. Faz política com o dinheiro alheio e mina a confiança dos investidores. No fim, o que resta é o descrédito, a instabilidade e o empobrecimento gradual da população.
Enquanto isso, as reformas estruturais continuam paradas. A reforma tributária, em vez de trazer clareza, gera mais incerteza; a reforma administrativa nem começou; e o Estado segue inchado, caro e ineficiente. A economia brasileira permanece travada por excesso de burocracia, insegurança jurídica, baixa produtividade e má alocação de recursos.
A verdadeira “herança maldita” que este governo prepara não está só nos números — está na cultura política que rejeita mérito, despreza eficiência e governa por slogans em vez de princípios.
Se o Brasil quer crescer com estabilidade, atrair investimentos e garantir um futuro próspero para as próximas gerações, precisa romper com essa lógica. Não se constrói o amanhã repetindo os erros de ontem. Liberdade econômica, responsabilidade fiscal e confiança nas instituições não são obstáculos — são pré-requisitos para o progresso.
A única herança que o Brasil merece é uma república que funcione. E isso exige coragem para admitir a verdade: quem destrói as finanças hoje não pode se fazer de vítima amanhã.

Sem comentários por enquanto!