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A elite que ainda quer escravos

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Há apenas algumas semanas, a influenciadora digital e cantora, Jojo Todinho postou uma foto com líderes da direita brasileira em suas redes sociais seguido de um vídeo onde se declarava uma “preta da direta” e incitava pessoas que tivessem a mesma opinião que ela a se libertarem e se posicionarem a favor do que realmente acreditam. A influenciadora chocou um público militante e verdadeiramente opressor que pediu, não inesperadamente, seu cancelamento nas redes sociais. Bem, a revelação “Que tiro foi esse?”, na linguagem de Jojo, teve o efeito oposto ao que desejava a esquerda identitária. 

Vários liberais e conservadores, muitos que não conheciam a fundo a figura da cantora, começaram a segui-la nas redes e curtir suas publicações e desabafos sobre algo muito comum aos dissidentes políticos no Brasil: nos sentimos, muitas vezes, em uma prisão simbólica; onde declarar o que pensamos de fato emerge quase como um crime, algo a ser censurado, “cancelado”. Mas por que tanta revolta por parte da esquerda a um ato de libertação de uma minoria?

Bom, já sabemos que “nós e eles”, ou – em termos filosóficos – a dialética do senhor e do escravo, é uma política adotada pela esquerda desde que o pensamento marxista surgiu. Contudo, a liberdade de expressão nunca antes havia sofrido tantos ataques explícitos quanto nos tempos atuais. A elite intelectual brasileira, majoritariamente marxista, ataca pessoas dissidentes sempre que possível, buscando anular sua opinião– seja sob o rótulo de opressor ou, como no caso de Jojo, de traidora da causa. Que causa? Certamente, não a da própria Jojo, a qual recebeu diversos ataques apenas por manifestar uma opinião diferente da elite famosa do Brasil. 

Acredito que, muitos, assim como eu, estão fartos de ouvir sobre cancelamento e falta de liberdade de expressão. Jojo não é uma exceção, mas sim a regra quando se trata da esquerda identitária. 

Por que não defender a liberdade do indivíduo no lugar do coletivo? Uma cor de pele determina o seu pensar? Pelo visto, a esquerda identitária – assim como uma de suas principais pensadoras na atualidade – acredita que sim.

Dando vós a uma das grandes intelectuais do movimento identitário basileiro, a saber, a filósofa Dijamila Ribero (2023, p. 84) em seu livro Lugar de Fala, o conceito de lugar de fala pode ser utilizado como ferramenta de interrupção de vozes hegemônicas – ou seja, do homem, branco, hétero, liberal ou conservador – em favor de vozes historicamente interrompidas, como é o caso da negra Jojo Todinho, na teoria. Entretanto, como saber quais são os grupos silenciados pelo sistema de discurso? O mesmo livro oferece uma resposta.

 Essa autorização de discurso, diferentemente da liberdade individual de expressão, é marcada pela característica coletiva de condições sociais compartilhadas entre grupos oprimidos, que define quem precisa restringir seu espaço de discurso em nome da igualdade de alguém que não é aceito pelo suposto discurso autorizado opressor. Assim, Jojo teria seu lugar de fala expandido se compartilhasse do discurso do racismo estrutural,  natural da sua condição social de preta originada da favela oprimida que – assim como seu grupo de lugar social preto – experiencia o racismo todos os dias. Porém, tem seu lugar de fala restringido ao defender um discurso opressor, dominante, homogêneo e em descompasso com suas condições sociais de “preta”, em nome de liberar espaço discursivo, através do conceito epistemológico, as vozes historicamente esquecidas e silenciadas de pretos identitários. 

Com isso, os ditos defensores da democracia e senhores da ética nunca respeitaram a opinião dissidente, muito menos de uma pessoa preta e periférica como a Jojo– sem um doutorado em sociologia pela USP e que quiçá respeita as condições sociais de um ser preto e originário da favela. A elite educada e douta acredita que ela precisa ser educada, ensinada a admirar a evidência do estruturalismo social e tutelada no seu pensar em nome da verdade identitária. 

Pois bem, assim fica provado que se você acha difícil ser liberal-conservador no Brasil, experimente ser negro e liberal! Os doutores marxistas, sentados em suas cadeiras de couro legítimo no Leblon, achariam que você e todos os negros devem ser escravos novamente. Segundo eles você e seu grupo minoritário não precisam mais capinar cana-de-açúcar como na escravidão, apenas obedecer cegamente suas ideias e dogmas, assumindo a verdadeira condição social de oprimido! 

Não é atoa que Aldous Huxley, autor de admirável mundo novo, já escrevia que a melhor e mais eficiente prisão seria aquela em que o prisioneiro acredita estar sempre livre, mas, na verdade, não consegue ver as próprias grades. Há um paralelo com a situação das minorias perante a esquerda identitária: sejam negros, gays, lésbicas ou trans todos podem ser incluídos na prisão da luta por “direitos” iguais ou liberdade— a menos que seja liberdade de discordar!  

Por fim, infelizmente teremos que admitir que, perante o tiro de Jojo, Thomas Sowell, em seu livro Os Intelectuais e a Sociedade, acertou ao escrever sobre como os doutos acreditam ter defendido a minoria de uma opressão, quando, todavia, apenas trocaram uma escravidão ideológica por outra. Assim, infelizmente, este é o caso de qualquer minoria escrava do marxismo identitário: oprimidos, uni-vos, pois não somos mais livres para pensar.

Fontes: 

Os Intelectuais e a Sociedade – Thomas Sowell

Lugar de Fala – Djamila Ribeiro

Admirável Mundo Novo – Aldous Huxley

Post do instagram de Jojo Todinho e comentários ao post. 

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Alicia Xavier

Com 23 anos, Alícia Coelho Xavier já é bacharel laureada em Filosofia pela PUCRS. Atualmente, cursa bacharelado em Ciências Jurídicas e Sociais na UFRGS e é coordenadora Atlantos, na diretoria de eventos e formação. Teve contato com as ideias liberais desde muito jovem, já que a família é constituída por membros honorários do IEE.

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