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O Irã e a fragilidade do país dos Aiatolás

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O Irã é um país localizado no Oriente Médio com ampla faixa litorânea ao longo do Golfo Pérsico, fazendo fronteira com países como o Iraque, Paquistão, Afeganistão e Turquia. É herdeiro do antigo Império Persa e é constantemente foco das notícias internacionais devido suas ações bélicas diretas ou indiretas nos demais países da região, rivalizando com a Arábia Saudita, uma potência regional islâmica sunita.

Desde 1979, após a Revolução Iraniana, o país está sob o regime teocrático xiita controlado pelos Aiatolás. Seus cidadãos são fortemente vigiados pelo Estado, principalmente pela polícia da moralidade, e aqueles que não estão de acordo com as leis do Alcorão sofrem severas consequências. Mulheres que se recusam a usar o hijab são violentadas pela polícia, homens assumidamente gays são enforcados em praça pública (ou forçados a fazer terapia de conversão de gênero) e hereges são constantemente perseguidos e presos. É um país em que a religião e as ideologias  antiocidental e anti-Israel estão acima de qualquer aspecto.

Sendo um país que se projeta como um agente geopolítico de peso no Oriente Médio, o Irã aposta no uso e financiamento de grupos terroristas. Dentre eles, o Hamas na Palestina (mais precisamente na Faixa de Gaza), o Hezbollah no Líbano e os Houthis no Iêmen. Este apoio culminou nas guerras por procuração de dentro do Oriente Médio, causando constante dor de cabeça, tanto à Arábia Saudita como para Israel.

No entanto, esta beligerância não vem mostrando bons resultados. As constantes baixas do Hamas, Hezbollah e Houthis mostram que seus oponentes, em especial os Estados Unidos e Israel, vêm atuando com mão de ferro na tentativa de eliminar estes grupos terroristas no Oriente Médio. Somado a isso, a distância geográfica do Irã com os seus rivais dificulta quaisquer invasões por terra, fazendo com que sejam utilizados meios alternativos de ataque a seus inimigos, como o uso de mísseis de longo alcance e drones.

Além disso, a recente queda do ditador sírio Bashar al-Assad representou uma derrota significativa para o regime dos Aiatolás. Sem o seu principal aliado político na região, o Irã se vê pressionado a buscar alternativas para buscar manter o seu domínio geopolítico. Dentre as alternativas, está o desenvolvimento de armas nucleares por meio dos programas nucleares. Caso o país obtenha sucesso, outros países da região passarão a desenvolver as suas próprias armas nucleares, aumentando a instabilidade da região.

No campo econômico, o país sofre com uma série de sanções desde a Revolução por parte dos países ocidentais, o que fragilizou a sua economia e culminou em seu isolamento no cenário internacional a longo prazo.  O país ainda é altamente dependente do petróleo e, mesmo que tenha havido uma aproximação comercial com a Rússia e a China, o Irã ainda enfrenta grandes dificuldades para que sua economia seja mais produtiva e diversa em meio a um mundo cada vez mais globalizado.

Internamente, a população vem demonstrando cada vez mais insatisfação com a falta de liberdade artística e de expressão. No ano de 2021, o cantor iraniano Sasy foi alvo de censura por parte do governo iraniano com a justificativa de atentar contra a moral e os direitos das crianças após o lançamento da música “Tehran Tokyo”. No clipe, uma parte da performance da música é feita em conjunto com a atriz pornô Alexis Texas. Porém, em um determinado momento, Alexis tira um hijab e dança ao lado de Sasy. Este ato, inofensivo aos olhares ocidentais, revoltou as autoridades iranianas, e fez com que o clipe fosse censurado em todo o país. No entanto, mesmo com a censura, muitos jovens e adolescentes continuaram a escutar as músicas de Sasy por meio das VPNs. 

Enquanto isso, as mulheres iranianas vêm se rebelando contra a polícia da moralidade. Em 2023, foi elaborado projeto de lei que previa pena de multa a prisão por 10 anos para mulheres que se recusassem a usar o hijab. Porém, uma adolescente que se recusou a usar o hijab acabou sendo morta pela polícia, e esta violência fez com que as mulheres de várias partes do país se manifestassem contra o autoritarismo e a falta de liberdade para a escolha de suas vestimentas. A repercussão foi tamanha que a implementação da lei teve de ser adiada. 

Por fim, o atual cenário do Irã não é bom para o regime dos Aiatolás. Se o país tem o sonho de retornar a ser a grande potência do Oriente Médio, terá de aprender a utilizar meios diplomáticos e econômicos racionais. Entretanto, como estamos falando de uma ditadura teocrática, seus Aiatolás ainda não estão dispostos a cederem o poder e darem a liberdade ao seu povo no curto prazo. Porém, no longo prazo, as demandas precisarão ser atendidas e o poder diluído, antes que seja tarde demais e o país colapse em uma nova revolução.

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Guilherme Esparza

É um defensor do liberalismo e acredita que a liberdade é o único caminho para a construção de uma sociedade verdadeiramente livre e próspera. Atualmente estuda Geografia nas modalidades Bacharelado e Licenciatura pela Unesp, Campus Rio Claro, é coordenador pelo Instituto Atlantos e também atual líder estadual da UJL (União Juventude e Liberdade) pelo estado de São Paulo. Nas horas vagas, adora debater política, conhecer novos lugares, aprender conteúdos referentes à geografia e história, ouvir músicas e jogar.

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