
Vivemos num cenário em que o noticiário está saturado de escândalos rasos, polêmicas artificiais e conflitos ideológicos fabricados — enquanto escolas seguem sucateadas, hospitais superlotados, empreendedores sufocados e a carga tributária engolindo quem produz. Como se não bastasse, agora lidamos com o maior escândalo de corrupção da história recente: o desvio estimado de R$ 90 bilhões do INSS, dinheiro arrancado do bolso de idosos.
Mas qual é a manchete que ocupa o centro do debate? A escala de trabalho “6×1”, a camisa vermelha da Seleção Brasileira, ou a narrativa de que o Discord seria uma “ferramenta de discurso de ódio”. Enquanto isso, o desvio bilionário segue escanteado na cobertura jornalística.
José Ferreira da Silva, conhecido como “Frei Chico”, sindicalista e irmão do presidente Lula, já havia sido denunciado pelo Ministério Público Federal em 2019 durante a Operação Lava Jato, acusado de receber propina de empreiteiras. Agora, surge novamente no noticiário, vinculado à CPI dos Aposentados, que investiga o rombo de bilhões nos cofres do INSS.
Em paralelo, vemos uma votação silenciosa no Congresso que aumentou o número de deputados federais — o que representa mais gastos públicos permanentes para sustentar a máquina estatal, em um país onde falta o básico.
Porém, qual deve ser a prioridade do jornalismo?
Noticiar se a camisa vermelha pode ou não ser usada pela Seleção, ou investigar com profundidade um escândalo que drena bilhões de reais do cidadão brasileiro e deixar evidente quem são os deputados favoráveis e aumentar o inchaço da máquina pública?
George Orwell, em sua obra 1984, fez um alerta atemporal: governos autoritários não temem cidadãos armados — eles temem cidadãos conscientes. Por isso, a estratégia nunca foi apenas reprimir, mas ocupar. A lógica do controle não é esclarecer os fatos, mas confundir. Não é resolver os problemas reais, mas substituí-los por pautas artificiais e emocionalmente carregadas.
É por isso que um tuíte polêmico gera mais repercussão do que uma reforma tributária. Que a cor da camisa da Seleção vira debate nacional enquanto escolas desmoronam e hospitais superlotam. O que está em jogo não é apenas o conteúdo do noticiário, mas o que escolhemos ignorar coletivamente.
Em outro de seus clássicos, A Revolução dos Bichos, Orwell nos mostra como mentiras repetidas, slogans vazios e manipulação emocional mantêm o poder nas mãos dos mesmos — mesmo quando tudo à volta está piorando. A distorção da linguagem e a fabricação de narrativas criam uma realidade paralela, onde quem questiona é marginalizado, e quem se adapta é recompensado com a ilusão de estabilidade.
Mas há outra forma de controle ainda mais sutil, apontada por Aldous Huxley em Admirável Mundo Novo. Em vez da opressão explícita, ele mostra como regimes podem dominar não pela censura, mas pelo excesso. Excesso de estímulo, excesso de entretenimento, excesso de informação irrelevante. O resultado? O adormecimento do senso crítico. O cidadão se vê cercado de tanto ruído que perde a capacidade de perceber o essencial.
Nesse modelo, o controle não precisa de força. Ele se disfarça de liberdade. E é por isso que tantas pautas supérfluas ganham manchetes, enquanto bilhões desaparecem dos cofres públicos, e ninguém se indigna por muito tempo.
Orwell via o futuro como uma bota pisando num rosto. Huxley viu como um sorriso anestésico que te impede de notar que a liberdade já foi embora. Ambos estavam certos. E, talvez, já estejamos vivendo um pouco dos dois.
É por isso que, governo após governo, nada muda de verdade para o brasileiro comum. A novela política continua. E quem realmente paga a conta é o trabalhador, o empreendedor, o jovem sem oportunidade e o idoso lesado pelo sistema.

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